Desde que me entendo por gente, o mês de dezembro sempre foi de muita festa na minha família – tem o meu aniversário, o da minha mãe e o do meu pai – apesar de serem três aniversários em 10 dias, sempre comemoramos separadamente! Têm as festas de confraternização com os amigos da escola, do trabalho, do curso de inglês, do condomínio. E tem o Natal e o Ano Novo.
Então, na minha visão de mundo, dezembro é mês de muitas festas, férias, calor, praia, shopping cheio, foto com Papai Noel. Mês de uma super movimentada e perfumada cozinha na casa da minha avó (no passado), e agora na casa da minha mãe, com cheiro dos quitutes deliciosos preparados apenas nessa época do ano. Ah, que saudade!
Recentemente circulou na internet um texto lindo: “Quando a casa dos avós se fecha”, de autor desconhecido, que emocionou por onde passou e que me motivou a escrever esse texto. Se você não leu o texto, pode encontrá-lo aqui.
Natal em família
Minha família extensa é grande, bem grande mesmo, somos 19 primos por parte de mãe. Quando
éramos pequenos íamos para a casa da minha avó materna no dia 24 e, no dia 25, para a casa da avó paterna. Lembro que o carro ia cheio de presentes. Lembro também da bagunça que fazíamos, da fila para ganhar dinheiro do vovô, da alegria que sentíamos com a chegada do Papai Noel e da diversão do amigo oculto (hoje sei que nem todos achavam tão divertido).
O tempo passou. A família cresceu muito e os avós já faleceram, mas ainda tentamos nos reunir. Sim, é diferente. Existe um ditado que diz – a família é como uma árvore com galhos que crescem em diferentes direções, mas que tem a mesma raiz. Temos todos uma base comum e construímos nossas memórias afetivas que nos acompanham para onde formos. Os ramos cresceram, cada um em uma direção e, nossos encontros, são cada vez mais raros. Mas sempre deliciosos! Tudo faz parte desse ciclo.
Tradições atualizadas
Na minha família nuclear repetimos o mesmo padrão – dia 24 passamos com a família da minha mãe e sua grande família italiana, agora na casa de uma tia querida que nos proporciona os costumes da casa da avó. Já no dia 25, passamos com a família do meu marido, cada vez maior. As crianças curtem demais a troca dos presentes, estar com os primos, como eu quando era criança.
Eu sempre imploro por uma boa foto de família para ficar de recordação. Foram poucas as vezes que consegui, mas aprendi que as lembranças ficam registradas em outro lugar, as fotos apenas nos ajudam a acessá-las.
Mas, e quando a gente mora fora?
Desde 2017 passo o fim de ano na Itália e meu dezembro transcorre longe disso tudo.
Sinto muita falta de toda aquela agitação. Por aqui também tem um monte de festas, confraternização com os amigos da escola, com os amigos do clube. Mas são amizades mais recentes e as nossas festas em famílias são bem pequenas e silenciosas, em casa, só nós quatro.
A época das festas de fim de ano na Itália não é triste, é diferente. Além de não termos a família e a agitação usual à qual estávamos habituados, vamos nos familiarizando com os hábitos e costumes do nosso novo país
Festas italianas
A Itália é um país pequeno se comparado ao Brasil, mas tem muitas diferenças regionais. Você pode ler mais sobre isso aqui. A noite do dia 24 é uma noite de festa religiosa, as famílias vão à Igreja para a missa do Galo. Em algumas paróquias a missa é às 10 da noite, em outras, mais tradicionais, é à meia noite. A missa de Natal é linda e emocionante, várias músicas são cantadas em latim. No dia 25 de dezembro as famílias se reúnem para comemorar o Natal com um almoço em família. Costuma ter troca de presentes e a figura do Babbo Natale (Papai Noel).
Três fatos que considero interessantes.
- as pessoas, principalmente os homens e as crianças, se vestem com roupas que fazem referência aos símbolos do Natal, como por exemplo: Papai Noel, rena de Natal, etc.
- os presentes não são muito custosos. As pessoas esperam para fazer compras no período de liquidação invernal que começa no dia 6 ou 7 de janeiro em todo o país.
- Com relação àescolha dos presentes, é bem comum presentear com roupas íntimas e/ou pijamas vermelhos ou com a temática de Natal.
Comemorações entre crianças e jovens
As crianças e adolescentes também fazem uma festa com os amigos e trocam presentes. No primeiro Natal aqui, minha filha fez um amigo-oculto de livro com os amigos da escola. Já nos anos seguintes, trocou presentes na faixa de três a cinco euros com os amigos (eram lembrancinhas mesmo!).
Diferente do Rio de Janeiro, aqui faz muito frio. As crianças não estão de férias e não estamos celebrando o fim do ano escolar (o ano letivo no hemisfério norte segue um outro calendário). A escola faz um recesso do dia 23 dezembro até 6 de janeiro mas, como dizem meus filhos, não são férias porque têm uma avalanche de dever de casa. E ainda, quando retomam as aulas, têm as provas finais do quadrimestre.
Muitas famílias aproveitam esse recesso de Natal para fazerem uma semana de esqui já que é o período da alta estação. Outras vão visitar os parentes. Mas vale lembrar que é a época do ano mais cara para se viajar. Os voos estão sempre lotados e caríssimos.
A virada do ano
A festa de fim de ano na Itália se chama Capodanno. As cidades organizam uma festa da virada na praça principal, com música e queima de fogos. Neste link você consegue ver a programação para essa noite especial. Acho lindo quando neva!
Nesse dia, as famílias têm o hábito de jantar em casa por volta das 8h da noite, e às 11h vão para a praça assistir à queima de fogos. Brindam a chegada do ano novo e voltam pra casa, no máximo, meia hora depois. Ou seja, as festas de fim de ano na Itália são públicas, na praça, organizadas pela
prefeitura para todos e com curta duração.
Claro que os jovens vivem tudo isso de outra forma. Alguns fazem festas privadas, na casa de amigos, outros ficam nas praças até tarde.
Quando uma porta se fecha, outras se abrem
De qualquer forma, dizem que quando uma porta se fecha, outras se abrem.
Tenho pensado muito sobre isso. Tenho saudades da casa da minha avó com meus tios e primos, mas agora eu sou a tia e meus filhos e sobrinhos são os primos. Estamos em um momento de criar as memórias afetivas dos nossos filhos – a avó é a avó dos meus filhos. Será que morando longe, estamos privando as crianças dessas experiências e lembranças futuras?
Sinto que os encontros de família, quando estamos no Rio com a minha grande família e com os meus amigos, são como os Natais, que agora acontecem em outro período do ano. Acredito que ressignificar esses momentos seja uma forma de não me sentir tão triste por não estar com as pessoas que são tão especiais nas nossas vidas.
Não é tão simples assim, mas aprendi que o sentido do Natal, dos aniversários e das comemorações estão nos encontros de todos os dias, todos os encontros são especiais.