Adolescência na Itália

jun 6, 2023 | ciclo de vida da familia, Famílias no Exterior, mudanças

A rede de apoio e as necessidades dos pais podem variar de acordo com a idade dos filhos. Neste momento, como mãe de filhos na adolescência aqui na Itália, sinto falta de ter amigas que possam me ajudar a entender o comportamento dos adolescentes italianos.

Não conheço as mães/responsáveis dos amigos de escola da minha filha. Os pais optaram por não ter um grupo de WhatsApp já que os filhos são crescidos, estão cursando a scuola superiore , que seria o ensino médio no Brasil.

Ok, procuro entender, mas isso não soou muito bem para mim que, mesmo morando na Italia ainda fazia parte do grupo de pais da escola do Brasil, não pelo conteúdo e discussões da escola, mas pela relação que estabeleci com o grupo de pais, sobretudo com as mães.

Passados 5 anos morando na Italia, já conheço alguns pais e tenho ate algumas amigas com quem trocar umas ideias mas, muitas vezes, ainda me vejo sem parâmetro e tendo que confiar bastante no que os filhos contam. Nos primeiros anos foi tudo mais difícil, mas com o tempo aprendi um monte de coisas! Quando chegamos na Italia minha filha tinha 14, idade do meu filho caçula e com ele esta sendo tudo muito mais facil.

Programa de adolescentes na Itália

Quais são os programas dos adolescentes italianos? Eles vão ao cinema, passeiam pelo centro da cidade (ou centros comerciais / shopping centers), vão à praia, ao lago ou à montanha (dependendo de onde moram). Saem para tomar sorvete, um chocolate quente, comer pizza ou hambúrguer (ou qualquer outra coisa que eles gostem – aqui tem o bubble tea – um chá com aromas e bolhas de gelatina, que faz muito sucesso entre os pré-adolescentes).

Também assistem séries na TV, passam muitas horas nos celulares, fazem as resenhas na casa dos amigos, etc. Acho que os programas são os mesmos em todos os lugares.

Aos 18 anos, os jovens italianos fazem uma super festa! Se tornam maiores de idade, podem frequentar discotecas, podem consumir bebidas alcoólicas, dirigir, etc. Eles entram no mundo adulto e as preocupações dos pais são um pouco diferentes. Farei um texto sobre a entrada no mundo adulto.

Apesar dos programas serem muito parecidos, quando chegamos em um lugar de cultura diferente, podemos estranhar alguns hábitos. Vejo que por aqui, os adolescentes de 14-15 anos, sentam em um barzinho para tomar um café e muitos fumam (os cigarros comuns ou aqueles eletrônicos).

Em função das distâncias pequenas (se comparadas com as distâncias no Brasil) e da existência de uma excelente malha ferroviária, os adolescentes podem, por exemplo, visitar outras cidades. Passar o dia na praia, visitar Veneza na terça-feira de Carnaval, visitar uma mostra de Van Gogh ou ir a um show de música numa cidade próxima são programas comuns para jovens de 15 anos – eles vão com o grupo de amigos, em trem e sem os pais.

Particularmente acho que esses passeios são um luxo – é o que nós, brasileiros, fazemos quando vamos de férias para a Europa. Mas também têm uns programas que eu chamo de ” festa esquisita” .

Festa estranha

Sabe aquela música – festa estranha com gente esquisita? – pois bem, no outro dia minha filha pediu para eu levá-la a uma terma. Um grupo de amigos dos amigos – que eu não conhecia – ia para a piscina de um hotel, categoria quatro estrelas, das 21h até às 01h da madrugada.
Era o programa de sábado e eu não sabia o que dizer!

Como assim? Na minha visão de mundo, de quem viveu no Rio de Janeiro, terma não me parecia ser um lugar para uma menina de 16 anos. Eu tinha uma ideia de terma que é muito diferente da adotada aqui.

Ela pediu, implorou. O pai era contra essa ideia porque estava frio, o hotel era longe (em outra cidade). Tendo a ser aquela que fica do lado dos filhos, até porque quero que eles se integrem com os vários grupos de amigos. Fiz uma pesquisa no Google e resolvi levá-la , com as minhas condições – fui buscá-la um pouco antes (às 23hs) e pedi para não molhar o cabelo porque na rua estava muito frio! Coitada!
Acho que nem curtiu o programa, pois até todos chegarem e se trocarem já eram quase 22hs.
Quando cheguei para buscá-la, percebi que as pessoas têm o hábito de ir para a piscina do hotel para relaxar e se divertir. Vão famílias com crianças, grupos de amigos de várias idades. Paga-se uma taxa de entrada e tem direito às piscinas, saunas, água mineral e maçãs.

Consumo de bebida alcoólica

O consumo de bebida alcoólica só é permitido a partir dos 18 anos, mas a adolescência é a fase das descobertas e das experimentações. Aprendi que com 14, 15 anos, os adolescentes italianos já bebem e muitas vezes com o consentimento dos pais e, é por isso que digo que não adianta conhecer os pais dos amigos sem conhecer a cultura.

Com 14 anos, minha filha passar o fim de semana na casa de uma colega de turma. A mãe/ anfitriã era a única que eu já conhecia Quando ela voltou, contou que a mãe tinha comprado 20 garrafas de cerveja para os 11 adolescentes de 14/15 anos. Essa mãe já tinha morado na Alemanha e não sei se era uma prática comum naquele país, se a cerveja tinha álcool ou qual era o seu teor alcoólico. É uma outra cultura!
Não posso julgar com a minha visão de mundo.

Confiança e combinados

Nesse cenário entendi que eu preciso confiar nos meus filhos. Eles sabem o que eu espero deles. Eu não vou comprar bebida para levarem para a casa de um amigo, nem vou oferecer bebida alcoólica para menores de idade na minha casa. Também não vou dizer para não beberem quando saírem com os amigos, pois se beberem,  não vou ficar sabendo.

Será que dá pra confiar? Será que eles vão me contar o que acontece entre os adolescentes?
Certamente eles contam muitos menos coisas do que eu gostaria. Não me acho uma mãe severa nem muito careta, mas eu já tive essa idade e muitas coisas eu preferia contar para os meus amigos do que para os meus pais.

Tento respeitar ao máximo a privacidade deles. E é muito difícil encontrar um equilíbrio. Aqui em casa temos um combinado – peço que me enviem uma foto de tanto em tanto tempo. Às vezes chegam fotos do chão, do pé e essas fotos têm um significado: “está tudo bem por aqui” .

Como não tenho uma rede de apoio que possa me ajudar a saber o que é normal, no sentido de usual entre os adolescentes italianos, estabeleci alguns combinados e padrões de funcionamento que parecem estar dando certo. Posso parecer meio rígida para alguns, muito permissiva para outros, mas encontramos uma forma que parece estar dando certo para o momento atual.

E no país onde você mora, como você lida com a adolescência?